por la calle...otra vez...
Fazer as malas e ir até ao aeroporto. No painel o voo vai sair a horas. Pena é chegar tarde, mais uma hora que em Lisboa... Mais uma hora... Não pesa quando se sai do dia-a-dia, quando se quer arejar, quando se quer fugir por uns tempos que seja. Uma hora a mais, pensamentos a mais também. Não adianta o número de viagens se no interior as horas estão trocadas e os minutos embaralhados. Não adianta, mas suspende-nos num qualquer lugar nem que seja por pouco tempo.
As ruas estão cheias de vibrações, facilmente captadas por quem passa. Desde o velhinho, sentado na paragem do autocarro que nunca mais chega e que, de olhar melancólico, espera, passando pela correria das Ramblas, com indianos a vender tudo e mais alguma coisa, até à brisa da marina, com as vozes do mediterrâneo a chegarem até nós... Tudo vibrações que nos percorrem os sentidos como se explorassem um novo território... Novo lá fora, velho no interior. Velho no interior porque provavelmente nunca saio do mesmo sitio... Ou talvez velho no interior porque na bagagem levou consigo tudo o que era suposto ficar para trás...
O regresso, seja de onde for, é sempre mais complicado. Um rosto com mais linhas ao longo dos olhos. Há quem diga "rugas", eu prefiro dizer "linhas", porque afinal tratam-se de linhas, que marcam os percursos feitos, uns mais acidentados que outros, e por isso mais profundos na marca, e outros mais suaves que deixam, por detrás das cortinas do palco, ver, de relance, o rosto que os suporta.
Regressei. Pelo menos fisicamente. Interiormente fiquei perdida, como qualquer bagagem. Não sei muito bem onde, mas por lá, onde quer que esse "lá" seja, fiquei. Acordo com o despertador mas não desperto... Continuo a dormir... De dia até à noite os mesmos passos, as mesmas expressões, a minha voz caída... Regressei. Comigo regressou tudo o que foi na bagagem e no check-in veio muito mais. Não acusou excesso de peso. Talvez não devesse. Ou talvez seja mesmo o hábito.
Ligam-me. Tentam perceber o que digo ou o que sinto. As ligações cruzam-se ou são intercaladas por longos silêncios, os meus. Faltam-me as palavras. Esgotei cada letra em construções frásicas sem conseguir "sentir", ou fazer "sentir". No papel é mais fácil. Tudo flui com liberdade própria... Não a minha... Se é que posso falar de minha... Por ser tão difícil escrever, é que me sufoca a facilidade de falar. Fico a ouvir. Resguardo-me no meu silêncio, mais doce de suportar que as vozes... Vozes de conselho, de ideia, de opinião, tudo abstracções...
Uma ferida aberta. Bem profunda. Nem a mais bela composição vocal a poderia fechar. Tal como Teseu teve de cortar a cabeça de Medusa, para não petrificar ao seu olhar. Falta esse olhar... Quem sabe se o sangue que brota, gota a gota, destruindo lentamente a mais doce sincope cardiaca, não ficaria assim imóvel...
Uma ferida aberta. bem profunda. uma voz de angustia. uma alma soturna. de dia ou de noite, perde-se no escuro. luz que se foi... coração que se esventra... o tempo...mais informação mas não retira nunca o rasgo, o peso que fica na bagagem...
regresso...
Fazer as malas e ir até ao aeroporto. No painel o voo vai sair a horas. Pena é chegar tarde, mais uma hora que em Lisboa... Mais uma hora... Não pesa quando se sai do dia-a-dia, quando se quer arejar, quando se quer fugir por uns tempos que seja. Uma hora a mais, pensamentos a mais também. Não adianta o número de viagens se no interior as horas estão trocadas e os minutos embaralhados. Não adianta, mas suspende-nos num qualquer lugar nem que seja por pouco tempo.
As ruas estão cheias de vibrações, facilmente captadas por quem passa. Desde o velhinho, sentado na paragem do autocarro que nunca mais chega e que, de olhar melancólico, espera, passando pela correria das Ramblas, com indianos a vender tudo e mais alguma coisa, até à brisa da marina, com as vozes do mediterrâneo a chegarem até nós... Tudo vibrações que nos percorrem os sentidos como se explorassem um novo território... Novo lá fora, velho no interior. Velho no interior porque provavelmente nunca saio do mesmo sitio... Ou talvez velho no interior porque na bagagem levou consigo tudo o que era suposto ficar para trás...
O regresso, seja de onde for, é sempre mais complicado. Um rosto com mais linhas ao longo dos olhos. Há quem diga "rugas", eu prefiro dizer "linhas", porque afinal tratam-se de linhas, que marcam os percursos feitos, uns mais acidentados que outros, e por isso mais profundos na marca, e outros mais suaves que deixam, por detrás das cortinas do palco, ver, de relance, o rosto que os suporta.
Regressei. Pelo menos fisicamente. Interiormente fiquei perdida, como qualquer bagagem. Não sei muito bem onde, mas por lá, onde quer que esse "lá" seja, fiquei. Acordo com o despertador mas não desperto... Continuo a dormir... De dia até à noite os mesmos passos, as mesmas expressões, a minha voz caída... Regressei. Comigo regressou tudo o que foi na bagagem e no check-in veio muito mais. Não acusou excesso de peso. Talvez não devesse. Ou talvez seja mesmo o hábito.
Ligam-me. Tentam perceber o que digo ou o que sinto. As ligações cruzam-se ou são intercaladas por longos silêncios, os meus. Faltam-me as palavras. Esgotei cada letra em construções frásicas sem conseguir "sentir", ou fazer "sentir". No papel é mais fácil. Tudo flui com liberdade própria... Não a minha... Se é que posso falar de minha... Por ser tão difícil escrever, é que me sufoca a facilidade de falar. Fico a ouvir. Resguardo-me no meu silêncio, mais doce de suportar que as vozes... Vozes de conselho, de ideia, de opinião, tudo abstracções...
Uma ferida aberta. Bem profunda. Nem a mais bela composição vocal a poderia fechar. Tal como Teseu teve de cortar a cabeça de Medusa, para não petrificar ao seu olhar. Falta esse olhar... Quem sabe se o sangue que brota, gota a gota, destruindo lentamente a mais doce sincope cardiaca, não ficaria assim imóvel...
Uma ferida aberta. bem profunda. uma voz de angustia. uma alma soturna. de dia ou de noite, perde-se no escuro. luz que se foi... coração que se esventra... o tempo...mais informação mas não retira nunca o rasgo, o peso que fica na bagagem...
regresso...
10 Comments:
A ideia de que podemos fugir de nós mesmos é uma ilusão....na esquina da nossa casa ou a milhares de quilómetros de distância a nossa sombra está sempre lá, em perseguição. O melhor é fazer as pazes com ela e viajar em conjunto, para que seja mais uma descoberta do que uma fuga...
Ou será ilusão minha, mas nesta minha ronda habitual pelos blogs estou farto de encontrar posts com alusões a partidas, fugas, cortes com o passado...
Mas que se passa? Ficou tudo com vontade de mudar de vida, ou de rumo? Nada melhor que alguma intrspecção, muito diálogo e deixar os sentimentos fluir.
Não, acho que não é ilusão tua Pinguim...há esse sentimento geral pelos blogs... por mim, não se passo essa ideia ou não mas tento fazer aquilo que dizes : introspecção, diálogo e sentimentos a fluir. E acrescentaria também catarse, que talvez seja o resultado de tudo isso.
Olá!
Já por diversas vezes vim aqui espreitar este teu cantinho (temos uma amiga em comum que o indicou), mas nunca tinha escrito nada. Hoje não resisti a fazê-lo porque este texto abordou de certa forma um tema que me tem dado volta ao miolo nos últimos tempos. Por isso, vou escrevendo aqui no escritório (chiu, não digam a ninguém!) onde desperdiço mais um dia.
Apesar de já não viajar há muito tempo, sei qual é a sensação de voltar e descobrir que nada mudou. Por momentos assim pareceu… O sol brilha, as ruas que conhecemos tão bem parecem ligeiramente diferentes, como se alguém tivesse desenhado toda uma nova vida no tempo em que estivemos ausentes, e até a nossa casa parece mais pequena. Mas aos poucos a nossa vista habitua-se e, afinal, está tudo na mesma.
Até podemos ter sido diferentes lá fora onde ninguém nos conhece, mais alegres, mais confiantes, mais esperançosos… A nossa vida até poderá ter-nos sorrido por alguns minutos, mas no regresso continua tudo igual, porque afinal, o nosso lugar no mundo permanece o mesmo. Continuamos vazios e invisíveis. Lá fora vivemos uma vida emprestada. Aqui voltamos a olhar-nos no espelho e a sair vencidos.
Acho que tenho passado a vida inteira a fazer e desfazer a minha bagagem interior, sempre em busca do tal porto de abrigo onde tudo faça sentido. Será que esse porto existe? É que continua tudo tão desarrumado…
A ideia de emigrar e abandonar tudo aquilo que nos oprime é doce mais ilusória. O que procuramos, infelizmente, não se encontra lá fora, mas sim cá dentro, onde a nossa essência se esconde. Mesmo assim, é mais forte do que eu fantasiar com uma existência digna de estar viva e imaginá-la do outro lado destas paredes tão conhecidas e, apesar de tudo, estranhamente confortáveis. No outro dia falava com um colega sobre emigrar e soltei a possibilidade da Austrália. “Mas isso é tão longe!” – disse ele, “Por isso mesmo.” – respondi-lhe, “Mas não gosta de cá estar?” – insistiu. Não lhe respondi. Não gosto de cá estar no mundo ou em Portugal? Fiquei a pensar em que resposta lhe daria para cada uma das hipóteses. Sobre a primeira nem quero pensar, não sei bem se iria gostar da resposta. Já a segunda… Acho que sim. Gosto do nosso país. Adoro a nossa língua. Sou uma especial apaixonada pelas ruas de Lisboa. Mas lá porque gostamos de um sítio não quer dizer que saibamos ser felizes aí.
A felicidade conquista-se ou herda-se? Oh, e aqui teríamos assunto para mais umas quantas linhas… Seja como for, para quem vive com o vazio, este mantém-se em qualquer ponto do mundo porque não o sabemos completar. Somos as mesmas pessoas… aqui… no outro lado do mundo… no Espaço… O nosso sofrimento não nos abandona, as nossas inseguranças continuam presentes… sempre. Não há para onde fugir, porque seja qual for o nosso destino, a companhia é sempre a mesma, a nossa. Talvez a solução seja mesmo a que a catwoman apresentou, fazer as pazes com quem somos. Talvez alguns de nós simplesmente não saibam ser felizes em parte alguma do mundo… nem mesmo na Austrália!
catwoman: é ilusão pensar ou fantasiar com a mudança da paisagem quando o pintor, que dá os retoques e criar mais uma folha ou mais uma flor sente que perdeu o seu toque e deixa as tintas secar pouco a pouco, ao ponto de já não poderem ser utilizadas. é ilusão pensar que azul pode virar castanho ou vermelho verde... é ilusão ver num quandro de degas uma bailarina imóvel... ilusões, o cerebro alimenta-se delas... talvez reste provocar um apagão e deixar andar um pouco às escuras até os olhos se habituarem...
talvez não seja tanto fazer as pazes... talvez seja mesmo uma questão de convivência, com esse outro eu, filho pródigo, que regressa a casa, cada vez mais carregado...
pinguim: não é ilusão tua, no mundo da blogosfera existe nos ultimos tempos várias alusões a partidas, fugas, cortes com o passado... o que se passa? não sei muito bem, talvez seja a brisa primaveril ou talvez apenas seja uma vontade geral de parar quando tudo à volta gira a 35 rotações como o velho vinil que deixa vislumbrar a voz sofrida de billie holliday... Mudar de vida ou talvez apenas mudar de compasso... instrospecção sempre fez parte das minhas entranhas, acho que ainda vivia no mundo confortável do liquido amniotico e já sofria de laivos de instrospecção e como sinal dava pequenos pontapés... laivos de introspecção conjugados com fluir de sentimentos, um fluir demasiado á flor da pele e se confortavel no ventre materno, cá fora é invariavelmente incompreendido e fonte de contracções sem parto... o diálogo tento conjugá-lo com silêncio, porque talvez o espaço de introspecção precise dele, para compreender que deve ficar mesmo assim, à distância...
anita: Sê bem vinda a este meu espaço de brincadeira filmica, na maior parte das vezes filmes de baixo orçamento e com palavras muito aquém de grandes produções, mas são pequenas linhas que escrevo e que deixo fluir... Temos uma amiga em comum que já me disse que temos coisas em comum, nomeadamente este tema, o vazio, tão trepidante quanto premente e constante...
a felicidade não se herda, o que quer que essa palavra abstracta queira dizer... mas falemos mais de leveza e de peso. Para a maioria dos transeuntes, a vida passa com grande leveza e deixam-se levar por ela, como uma criança é levada pela mão do pai ou da mãe... para os outros, os que olham para dentro para poderem reconhecer lá fora os pingos de chuva, que pensam e repensam, a vida traz um outro peso, não nos leva pela mão.. talvez por achar que temos força e personalidade vincada o suficiente para avançarmos sozinhos ou pelo menos para avançarmos pela mão de outros "eus", igualmente assim, instrospectivos. Talvez por isso cruze os nossos caminhos, mesmo que seja apenas cruzar...
não sei se lá fora seria mais fácil ou não, uma vez que ninguém pode escapar a si mesmo...nem à sua própria dor ou sofrimento... mas lá fora talvez o ar seja mais leve e nos deixe respirar de vez em quando sem sentir que sufocamos a cada inspiração...
o porto seguro? existe continuamente, com a nossa bagagem interior arrumada ou mesmo desarrumada. Há quem lhe chame amizade, ou chamo-lhe amor, porque é universal e não deve ser dividido por categorias... deve apenas ser sentido... mas não tem muito espaço tendo em conta a quantidade de categorias e rótulos que os transeuntes, esses a quem a vida é leve, gosta de colocar e fazer pesar a vida dos outros... como se não fosse suficiente a leveza com que acordam, ainda fazem por pesar na existência dos outros...
talvez não saiba mesmo ser de outra forma... e o único momento em que por instantes esse vazio teve algum indicio de apaziguamento, não posso ve-lo repetir-se... é melhor assim, talvez seja um indicio, outro, o de que deva partir, quem sabe para a Austrália... Ouvi dizer que lá os dias deslizam... talvez me deixe ir com eles...
às vezes um chapadão como um acidente, com amolgadelas e tudo, faz-nos sinal para: deixar o vazio assentar, talvez ele próprio faça nascer um outro mundo interior, mais ou menos desarrumado, tanto faz, mas outro... afinal antes do Big Bang existia precisamente o vazio...
espero que voltes mais vezes e quem sabe não nos encontramos na Austrália;)
Beijinhos a todos e obrigada a todos pela visita, não tenho chocolatinho como nos hotéis mas apenas um beijinho e um Obrigada;)
Bem Cris, agora quem ficou sem palavras fui eu…
Por vezes penso que a vida é mais fácil para quem pouco pensa nela, limita-se a seguir o guião como um qualquer actor. Quem, por sua vez, mais não faz do que questionar e analisar tudo até à exaustão, sofre em demasia. É cansativo tanto pensar…
Olho para os meus colegas de trabalho e apesar de todos serem bem mais velhos do que eu, logo com diferentes vivências e experiências, sinto que a vida para eles corre de forma perfeitamente normal. Mero conformismo… Quem está mal no meio de tudo isto? Eu, que ambiciono mais e mais e sonho com uma paz de espírito que me foge? Ou eles que se limitam a preocupar-se com o dia a dia e a não ligarem ao lugar que têm no mundo? As conversas que se repetem… são as idas aos supermercados… a camisola em promoção… as dietas loucas agora que está para chegar o verão… o produto fantástico para tirar as nódoas… as aventuras automobilísticas dos netinhos… Parem por um bocadinho… por favor!... deixem-me sangrar à vontade. Não me façam lembrar que a vida politicamente correcta que todos exigem de mim é de uma banalidade doentia. Sei que soa egocêntrico, mas parece que não temos nada em comum e eu cá vou ficando tentando ocupar um lugar que não quero, enquanto a redoma se vai apertando cada vez mais, impedindo-me de respirar…E toca a sorrir e dar atenção aos outros enquanto o coração se desfaz.
Acho que para mim sempre foi assim… uma constante procura desse amor a que chamas porto de abrigo… infelizmente não o encontro… e donde antes havia esperança agora há apenas um buraco negro que tudo suga e faz desaparecer. As ilusões de um amor que julgo possível e que afinal é apenas produto da minha imaginação. As amizades que me sustentam e ajudam a caminhar vão-me abandonando e deixando desamparada. Os amigos que jurei ser para toda a vida simplesmente evaporam-se no calor do meu sofrimento. Apenas um ou dois vai resistindo, talvez porque tenham corações maiores e mais resistentes do que os outros. Os que partiram levaram consigo uma parte de mim que receio jamais recuperar. A facilidade com que tudo acaba é dolorosa demais para não deixar cicatrizes bem grossas, vermelhas e visíveis. Por vezes apetece simplesmente apagar tudo, partir para longe e começar de novo… onde ninguém nos conheça, onde o nosso passado não pese… sem críticas… cobranças… exigências… pelo menos até nos darmos a conhecer… e se calhar nessa altura, voltamos ao ponto de partida… : (
Somos criticados por sofrer, porque afinal, como alguém me disse na semana passada: “Não tens problemas a sério. Simplesmente adoras passar o tempo a lamber as feridas. Devias sorrir para a vida.” Talvez… Lambo-as até as deixar em carne viva e sem qualquer hipótese de sarar… e os meus sorrisos têm apenas um sentido… ida… torna-se difícil olhar em frente quando parece que pertencemos a outro mundo onde nada encaixa com nada, onde a luz é fraca e pouco quente… ninguém nos entende e quando tentamos explicar o que se passa aqui dentro, soa tudo tão pequeno e miserável que ninguém faz um esforço por entender. É mais fácil dizer que não temos problemas a sério e ainda temos muito para aprender da vida… a criança com corpo de mulher… “Eu com a tua idade já estava casada e com filhos!”, dizem… apetece responder “E eu com a tua, certamente já estarei morta, se não de corpo pelo menos de espírito!” Se calhar fui precoce… aprendi a sofrer cedo demais… e, provavelmente, esqueci-me de aprender o resto…
P.S. – Se te antecipares, fico à espera de um convite para uma visita à Austrália… ; )
Anita... Por onde tens andado?
Eu não quero presumir saber o que tu sentes mas identifico-me com muito do que escreveste.
Também eu olho com desprezo para o rumo que tomou a vida dos meus colegas de trabalho mais velhos e questiono-me se é esse o meu destino. Preocupa-me que eles se preocupem com insignificâncias e que não procurem que as suas vidas tenham algum significado.
Também eu tenho muito poucos amigos e ultimamente tenho feito um bom trabalho a afastar os que já tinha. Os meus contactos do msn reduzem-se (salvo algumas excepções) a colegas de trabalho e a única pessoa que me liga é a minha mãe para dizer que eu não lhe ligo. ;) Como tu, também queria ir para um sítio onde estivesse livre de todos os compromissos sociais. No fundo acho que devo viver sozinho. Sei que posso vir a arrepender-me no futuro e que a minha vida pode ser triste e miserável, mas o que perco em felicidade ganho em liberdade. Podia viajar para a Austrália ou para a Nova Zelândia mas no fundo sei que viajar não muda nada. As verdadeiras mudanças dão-se aqui, nos mesmos sitios de sempre, no meu quarto equanto me mortifico...
Senhor do Mundo… Olá!
Confesso que fiquei dividida ao ler o teu comentário… o eterno duelo entre o bem e o mal… a parte egoísta fica contente que te tenhas identificado com o texto… sinto-me assim mais acompanhada… a parte altruísta fica triste que este conjunto de pensamentos te soem tão familiares… não desejo esta tristeza sem fim a ninguém…
É difícil olharmos em volta para os “adultos” que se querem exibir aos nossos olhos como exemplos a seguir e não tremer. Eu não quero ser assim!... mesmo no fundo do meu poço tenho mais vida e desejos que esta gente toda junta… talvez seja por ser a mais nova e ainda não estar totalmente corrompida ou simplesmente pertençamos a mundos completamente opostos… acho que o problema é a diferença de idades, não a física mas a espiritual, acho que mesmo sufocada pela tristeza tenho tendência a querer mais da vida e do mundo… Eu não quero as vossas orientações e condições para poder viver!... deixem-me cair do cavalo sozinha e se partir alguns ossos, melhor ainda, maior é a dor… É arrepiante se pensarmos que passamos a maior parte dos nossos dias com estas pessoas… não é que sejam más pessoas, simplesmente não nos compreendemos… eu por mim estou saturada… não que ache que noutro lado possa ser muito diferente, mas confesso que gosto de acariciar essa ideia de vez em quando… são demasiadamente absorventes na sua mesquinhice… mais parece que é preciso uma certa distância para poder pensar, poder sentir… talvez isto seja apenas o meu ano de trabalho sem quaisquer férias a falar… ou a minha consciência a dar-me autorização para me pôr a milhas. Eu sei, eu sei, tudo isto acabou de soar extremamente pedante… mas a falta de paciência faz destas coisas…
Tal como tu, o meu msn vai ficando cada vez mais vazio… a minha lista de contactos começa a classificar-se na categoria de patética… Não sei se por sentimentalismo ou preguiça não consigo apagar os contactos que por lá andam… vou mantendo-os por ali à espera não sei bem de quê… o número de janelas que se vão abrindo é cada vez menor… talvez devesse mesmo apagar a maioria… é patético à superfície e doloroso lá bem no fundo vermo-nos todos online mas ninguém se falar. Por vezes lá arrisco o “bom dia”, mas logo me arrependo, o meu “bom dia” fica sozinho até me desligar ou, pior ainda, regressa coberto de gelo.
Oh, como te entendo quando falas em viver sozinho… como eu gostava de ter um espaço só para mim e as minha neuroses. Só lá entrava quem eu quisesse… Bastava um cubículo… um local perdido onde pudesse deixar de fingir que me apetece jantar… onde pudesse deixar de desenhar um sorriso sofrido sempre que me violam a privacidade… onde pudesse deixar de ignorar sempre que me entram no quarto quando estou a dormir e me acordam para saber se estou a dormir… onde pudesse deixar de ter de me sentar atrás de portas fechadas sempre que me apetece chorar… Há muito que deixámos de ser pais e filha numa casa, hoje em dia somos apenas três adultos forçados a partilhar o mesmo espaço e onde um deles fala uma língua diferente e incompreensível.
“… o que perco em felicidade ganho em liberdade.” Nunca tinha visto isso sobre essa perspectiva… talvez seja essa a solução… simplesmente escolher… acho que ainda não decidi qual das duas escolheria se tivesse essa oportunidade… sinto que nunca experimentei nenhuma…
Oh bolas! É oficial, sou incapaz de fazer comentários pequenos. Sorry!... quando começo a escrever tenho dificuldade em parar… mas até que me expulsem mais as minhas teses, vou ficando por aqui… ; )
Eu já não vivo com os meus pais mas se vivesse provavelmente seria a tua maneira. Falar apenas o bastante para não ter de falar mais. Falar o mínimo. Não porque não se gosta mas porque já não há mais nada a dizer e as trivialidades enjoam.
Eles não iam perceber porque eu sofro e iriam querer fazer alguma coisa por isso. Não percebem que eu sofro porque quero, não porque gosto mas porque preciso. Porque é a única coisa que me parece autêntica... Sofrer para me conhecer...
anita e senhor do mundo:
partilho da vossa forma de sentir as coisas e talvez o senhor do mundo tenha razão quando diz "o que perco em felicidade, ganhe em liberdade"...
quando estou no msn não existem muitas janelas a acenderem diga-se de passagem... neste momento deve estar a haver um corte orçamental á minha pessoa... também não faz mal... o que conta não é a quantidade mas a qualidade...
mas talvez a solução ou a receita do médico seja mesmo a solidão... a distancia fisica dos locais para ganhar perspectiva...
estou cansada... o cansaço exerce neste momento uma força tão premente como a minha própria dor e já vou perdendo as forças na corrente... escolhe-se o facilitismo e nessa onda gigante vem tudo dar à costa... eu é que já tenho forças para percorrer uma praia inteira... sempre tentei compreender, ouvir... mas está mais na moda os altifalantes e os megafones...
quando for para a australia aviso... o dia-a-dia rotineiro esgota-me... sobretudo o ter de sorrir sem vontade para pessoas que não o merecem, mas faz parte... como diria a minha chefe. daquela porta para dentro és outra. os problemas ficam lá fora... exige-se o automatismo, fazer um switch off da pessoa para o profissional, esquisofrenia exagerada, sermos varios multiplos mas nao um multiplo dentro de um outro multiplo...
por cansaço... paro... e dispenso postas de pescada, como muita gente gosta de mandar sobre a vida dos outros...
obrigada pela vossa companhia aqui neste meu recreio filmico...
beijinhos aos dois
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