Thursday, February 12, 2009

T de Tristeza

Corri pelos corredores, perdi o fôlego ao subir as escadas. Procurei os números nas portas. Queria vê-la. Queria encontrá-la. Andava a fugir. Evitei visitá-la naquele quarto desde que soube que ficou doente. Não queria descobrir que a imagem que revivia na minha cabeça, noite após noite, de alguém cheia de vida, estava agora sumida. Não queria ver o quanto sofria. Não queria reconhecer nos seus olhos a sensação de inutilidade.

Recuperei o fôlego. Corri pelo corredor a dentro. Perguntei a uma enfermeira onde era o quarto. Fiquei por momentos fixada no rosto da enfermeira, parecia o rosto de outra pessoa que me conheceu ou conhecia. Olhei para a placa que tinha ao peito mas não consegui ler o nome. Aquele sorriso que estranho. Imediatamente sacudi a tentativa de localizar aquela mulher na minha cabeça. Corri para o quarto. Segundo andar. Entro de rompante. Cai-me tudo.

A imagem que temia era real. Estava confinada a uma cadeira, fingia-se de forte nas palavras, na postura do corpo, mas os olhos traiam-na. Enchiam-se de lágrimas quando alguma parte na conversa a relembrava da condição em que estava agora, de como não podiam depender dela.
Tentei dizer-lhe que não devia ter medo de parar. De parar e pedir ajuda. Era a vez dela.

Não sei se consegui, provavelmente não. Tentei que as minhas palavras de apoio não me traíssem, mas sentia na minha garganta a hesitação, o jeito trémulo de quando se está prestes a chorar. Mas o choro engasgou-se. Nenhuma lágima caiu. Apenas se acumularam nos meus olhos.

Como um segundo na vida pode fazer a diferença. Como a vida num segundo se transforma.
Como neste instante o meu T é de Tristeza...


V

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