a dama de copas

simplesmente uma senhora. A dama de copas, julgada a torto e a direito pela sua postura irreverente e resposta sempre pronta na ponta da língua, não costumava acatar ordens de ânimo leve. tinha de perceber tudo ao mínimo pormenor, desde o adjectivo ao nome ou pronome, passando por artigos definidos e indefinidos. tinha de perceber. para que tenho de fazer isto? pergunta legítima, diriamos.

tinha ainda graves problemas com figuras autoritárias. nunca lhe inspiraram muito respeito. como respeitar alguém que tem a sua altura? nem o valete ou o rei a afrontavam, como poderiam? sentia que não podia respeitar alguém que não respeita os demais. e com razão.

acima de tudo sentia-se injustiçada. o seu naipe seria sempre o mais descriminado. não é à toa que há um jogo em que todas as copas têm de sair se não se quer perder o jogo.
teria de se retirar? perderia o jogo?
como poderia um coração ser alvo de tanto escárnio e mal dizer?

a dama de copas sofria de um mal: ter o coração sempre acima da cabeça.
mas essa seria sempre a sua vitória.
os cérebros têm alzheimer.
os corações quanto muito enfartes.

mas antes dessa hora...
os cérebros pensaram e de nada se ficou como registo.
os corações viveram e em cada batida, tudo se registou...

Dame