Monday, May 14, 2007

the sadness in my eyes
no one guessed
or no one tried...

choro. choro compulsivamente. choro até as lágrimas sufocarem a minha agonia. choro até as lágrimas se derramarem sobre o meu batimento cardiaco. Pressiono o meu rosto contra a almofada para abafar os uivos de agonia. Abafo o ruido da minha dor para não se estender ao resto da casa. fica apenas o eco no meu quarto, o eco entre quatro paredes que se dobram sobre mim e me impedem de adormecer.
talvez seja a violência nip/tuck ou talvez seja apenas as baterias a acusarem o limite da sua reserva.

de manhã encho o peito de ar e permaneço o dia todo sem respirar. nem sequer quando faço uma pausa para um cigarro e saio para a varanda. por muito ar que ai se respire. não é o meu. eu não respiro. continua assim, sustendo a respiração. todos os dias, ao final do dia, solto o ar inalado e já nem a sensação de alivio me vale. continuo sem respirar.

recordo-me de Dracula de Bram Stoker em que o personagem de Keanu Reeves se vê sucumbido às ninfas das trevas que lhe esvaziam o corpo de sangue. Assim sou eu, diariamente. gota após gota, a grande refeição é o mar vermelho. talvez doce demais. no verão são as melgas. no outono e inverno as sanguessugas. na primavera os vampiros. parece quase um paradoxo, uma vez serem criaturas soturnas, ou talvez não. gostam do sol, apenas não se aproximam dele. para viver necessitam antes dessa outra cor que simboliza vida: o vermelho. escondem-se por entre aparências de "politesses" mas o que pretendem é isso mesmo: o vermelho. O vermelho do meu sangue, gota a gota.

já não tenho forças que me sustentem. pequenos pedaços de mim saiem e não voltam. todos querem uma parte de mim. assaltam-me. e eu ao vazio fico condenada...

pesadelos assombram-me o sono, como se estivesse no castelo das trevas. presa ao longe quando o seu coração vive em Londres e por Dracul. Antes fosse a personagem entregue às ninfas e que bebessem todo o meu sangue... ao menos estaria a dar-lhes vida, ao invés de aos poucos me roubar a minha... a dor que carrego a meu peito pesa mais que o meu próprio corpo... tonelada após tonelada... quem sabe se com tanto peso, não me transformo mesmo em pedra?

talvez... ainda assim as pedras também vertem lágrimas.
ou simplesmente: também choram...

7 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Uau, ler estas palavras foi quase como passar os olhos por um dos textos que vou acumulando no meu confidente dos dias maus.

Viver em ponto morto… sem tomar qualquer direcção… porque a dor que nos prende não deixa. Não sei se os outros não vêem a dor que por vezes carregamos ou simplesmente preferem ignorá-la para que não os contagie. É fácil demais virarmos as costas àquilo que não entendemos. Como é que podemos explicar aquilo que vai aqui dentro? Esta dor constante que nos asfixia e que nos vai secando por dentro mas que não tem razão válida para existir. Talvez tenha nascido connosco… Se estivéssemos doentes, nos estivéssemos a divorciar, tivéssemos perdido o emprego, nos tivesse morrido alguém… aí sim a nossa dor seria entendida e até acarinhada… Mas e quando se sofre sem se saber muito bem porquê? Os ataques de choro que vêm não se sabe bem de onde… a vontade assustadora de magoar a carne para que a dor na alma possa parar… o vazio constante e nunca preenchido…

Por vezes penso que seria melhor partir para um qualquer lugar isolado. A solidão física é menos dolorosa do que a solidão interior. O estar-se sozinho no meio da multidão é das piores sensações que se podem ter. Saber que não temos qualquer importância ou lugar na engrenagem diária. Apenas mais um rosto abandonado no meio de tantos outros… apenas caminhando em piloto automático, desviando dos encontrões enquanto os olhos se enchem de lágrimas… começa a doer na carne… cada passo parece pesar toneladas… o coração bate de forma irregular… a respiração parada…

Em casa a rotina sucede-se a uma velocidade intimidante… os dias são tão iguais que mais parece que não os vivi… Serei assim tão boa actriz? Ninguém se apercebe de nada? Ou simplesmente preferem ignorar na esperança de que tudo se resolva por si? Enquanto for caminhando na direcção que me vai sendo traçada através das discussões, ameaças e chantagens emocionais tudo lhes parecerá sempre bem. O sofrimento dos outros é sempre compreensível e digno de piedade, o que escorre pelas paredes da nossa casa é sempre inexistente e produto de fantasias mal resolvidas… meras birras de quem ainda não cresceu…

Cá fora, as gargalhadas… os sorrisos tímidos… os abraços sentidos… os beijos apaixonados… mostram-me que a vida pode ser bela, desde que a saibamos viver… Eu não sei… também tenho medo de me ir deixando secar e apodrecer por dentro e um dia acordar e ser completamente oca, uma pedra deslocada e sem qualquer propósito cheia de arestas bicudas que apenas magoam… apenas existe o emprego odioso… a má disposição constante da colega do lado… os silêncios nas refeições de família… a caixa de correio vazia… as oportunidades perdidas que não voltam… o cansaço interior… o telefone que não toca… as portas fechadas para que ninguém cheire o medo… as lágrimas escondidas atrás de lentes escuras mesmo em dias sem sol… a asfixia do fracasso… um monte de nadas que vão consumindo as horas que faço questão de desperdiçar…

15 May, 2007 03:58  
Anonymous Anonymous said...

Mas porquê tanto desalento, tanto pessimismo???
Eu sei que é fácil falar de fora, mas todos já vivemos momentos menos conseguidos e superá-mo-los.
Daí, que por muito que doa, a dor dará lugar à esperança; é uma questão de auto-ajuda...
Beijinhos.

16 May, 2007 11:53  
Anonymous Anonymous said...

Nós sabemos SEMPRE porque sofremos. Admitindo de uma vez por todas o porquê, é mais fácil superá-la, mas há quem prefira conviver diariamente com a dor. É uma questão de comodismo.

17 May, 2007 03:57  
Blogger Deeper said...

Também queria deixar aqui um toque de optimismo. Essa angústia toda tem solução, apesar de eu nunca ter dito que seria fácil. Porém a vitória, no fim, terá muito melhor sabor!
E sempre que precisares de ajuda, sabes o meu número. Tentarei sempre mostrar-te um caminho para as Coisas Boas da Vida.
Beijo grande

17 May, 2007 05:14  
Blogger Miss Vesper said...

anita: "como é que podemos explicar aquilo que vai aqui dentro?" acho que tudo se resume a esta tua frase e que facilmente quem está de fora pode interpretar como "entregar os pontos" ou desistir... Não se trata nem de uma coisa nem de outra. é um sentimento interior, ofuscante, que faz coagular o sangue...

por maiores tentativas que se façam com recurso à verbalização ou à escrita, é em vão... prefiro o silêncio ou a distância... ao menos num espaço, esse a que chamas de solidão fisica, existe apenas o sentir dessa dor, que tentamos decifrar e que não conseguimos explicar... eu já desisti de tentativas de explicação até porque podemos ouvir todas as opiniões e conselhos, deixar os ouvidos atentos, mas a electricidade que nos corre pelas veias através de ligações só tem uma tomada, a nossa... e cada um tem a sua.. não são comparáveis...
como diria a canção "we have our cross to bare..."

tudo o que não é identificavel ou decifravel é facil rotular, há quem lhe chame comodismo pois para mim comodismo são as mesas de cabeceira ou os sofás... não é comodismo não saber, simplesmente não se sabe e pronto... mas como hoje em dia o que vale como cartao verde ou semaforo verde são os sim ou os nãos, respostas objectivas, tudo o que seja abstracto como o talvez ou o não sei é facilmente condenável...

que se lixe! nao sei e pronto. até porque se já os filosofos da antiguidade o diziam e assumiam como postura e forma de estar na vida, porque não nos dias-de-hoje?

e correndo o risco de ser demasiado popularucha: cada um sabe de si...

dai que explicar o porquê de nos sentirmos como sentimos seja o mesmo que pedir a um pintor porque pintou aquele quadro ou a um realizador porque fez aquele filme e porque o organizou assim... david lynch diria: cada espectador faz o seu proprio filme... ora nem mais...

e quanto às vivencias que vês no exterior, mais uma vez te digo: trata-se de uma questao de peso e leveza...e nem sempre o que se vê é... é mais aparencia...

pinguim: lembraste do poema que escreveste? pois é mais ou menos nessa direcção, das ondas... superar talvez, mas é como as feridas da pele, saram, mas deixam marca... e por mais que as novas tecnologias a laser já eleminem tatuagens e tudo, fica uma marca, nao visivel a olho nu, mas mais profunda na epiderme...

deeper: sabes que nem tudo se resume a essa angustia... há muitas coisas que a ultrapassam... acho que de certa forma a dor já nasceu comigo, talvez por isso nao tenha chorado logo de inicio, para abafar o ruido interno... há coisas que têm solução, outras que permanecerao enternamente insoluveis... e como já disse acima à anita, não vale a pena tentar explicar... eu sei que és optimista e que gostas de mim... eu tenho algum optimismo guardado na algibeira, talvez um dia... neste momento é mais realismo, e como se diz um pessimista é um optimista com anos de experiencia e vivencia...
mas aceito que me continues a mostrar as coisas boas da vida, como alias o tens feito sempre... beijo mt grande

anonymous: é facil apontar o dedo, até as crianças o fazem... cada um trava a sua batalha e reune as suas tropas como pode e á medida que pode... e cada general no seu galho...

17 May, 2007 11:57  
Blogger Luís Galego said...

este texto só pode revelar um ser humano excepcional...que pena no nosso caminho encontramos tenta gente que não nos diz bada e num lugar longinquo alguêm fala a mesma linguagem que nós...

25 May, 2007 06:02  
Blogger Miss Vesper said...

no dia a dia as avenidas são largas e compridas e nesse percurso a pequenos passos cruzamo-nos com fatos cinzentos e rostos ausentes... mas existem outros espaços como a blogsfera, espaços de encontro de outros rostos, mais presentes e com palavras que espelham mais que uma avenida...

obrigada pela tua visita luis, volta sempre que te apetecer;)

27 May, 2007 11:29  

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