Quando o choro soluça...

"Vestiu o seu melhor vestido, calçou os seus melhores sapatos e saiu sorrindo. Há medida que ia caminhando sentia-se bem. Gostava do sol sobre o seu rosto, do calor dos seus raios contornando as suas curvas. Continuava a caminhar como quem desfila numa passerelle. Até que de repente tomou consciência que a luz era artificial, que não estava na rua mas num interior qualquer e que o passeio onde julgava caminhar era de madeira e terminava já ali à frente. Mas a consciência de tal facto não importava se interiormente se sentisse ainda sorrindo. De repente o desenho nos seus lábios mudou. As luzes continuavam lá, mas a sua presença havia-a abandonado. Observava-se como se fosse um espectador na plateia. Estava à superficie, olhando para si. Num instante, breve, já não estava ali. E por dentro, o vazio. O sorriso fechou-se. Deu lugar a lágrimas, que escorriam incessantemente pelo seu rosto. Queria parar a sua teimosia, mas quanto mais tentava mais o seu rosto ficava embrulhado em água. O soluço sôfrego era outro impulso que não conseguia conter... Nele escondia-se o grito agudizante, como quem liberta pela garganta toda a dor que esmaga o peito por dentro... Mas não conseguia gritar...Fazia-o para dentro. Restava apenas o soluço. Máscara de um palco que encerrara agora as luzes. Apenas num instante um grito abafado com um soluço."


Vesper E