Sunday, September 02, 2007

monólogo interior...


"o vazio instalava-se como a brisa que se recusava a entrar pela janela aberta. fechava os olhos, a inércia dava sinais de vida. não tenho propósito ou intenção. não quero dizer isto ou aquilo. basta-me sentir. talvez a questão esteja nisso mesmo: sentir. Sentir demasiado ou de menos.

a preocupação exagerada revela-se de tempos a tempos, tentando mascarar a minha incapacidade. junta-se os números como na matemática mas no meu caso não dão resultado de nenhuma operação. aqui não há espaço para ciência. mas na soma fica apenas retida a falha.

a ponte entre a imperfeição e a demasia de fragmentos, todos eles fragilmente humanos e todos eles suavemente costurados deixando soltas linhas defeituosas.

nas minhas veias corre sangue agitado. da minha boca saiem palavras trôpegas, atropelando-se umas às outras. não sei se o que digo significa alguma coisa, talvez seja apenas a prova dessa incapacidade, minha, que se me revela a cada instante, como uma bomba-relógio interna que rebenta espaçadamente. sinal de alarme para um desajeito inato. o que se move é apenas a emoção, pequenos diques de quem sou.

se nas palavras me atropelo,
se nos gestos me condeno,
então que fique apenas a emoção,
talvez a única forma visível de que não sou isto nem aquilo, nem mais
talvez menos
um conjunto de menos, fragilidade tropeça.
uma obra inacabada, cuja beleza apenas se enaltece por não estar terminada..."






2 Comments:

Blogger Anita said...

pois é, e com este texto deixaste-me sem palavras... digo-te apenas que me identifico com muito do que aqui descreves :)

lindo... simplesmente lindo... parabéns pelo texto!

Beijinhos

03 September, 2007 06:21  
Blogger João Roque said...

Sim, lindo, verdadeiramente lindo, mas tão amargo...
Que posso fazer para minorar tanta amargura?
Beijoquitas.

14 September, 2007 07:00  

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