Wednesday, November 15, 2006


O'Mother, Where Art Thou?


"Lembras-te desta canção?

From a little shell
At the bottom of the sea
Was the Earth and the Moon
And the Sun above me
But the world fell down
With some people still around
There is love, there is love
To be found

Não percebes a letra mas gostas da melodia. Se traduzir deixa de ter o mesmo sentido, fica perdido na tradução. O teu amor não se traduz. Se o encontrei foi no teu ventre, nos teus gestos, na tua doçura. Não posso deixar de te desiludir, bem sei. Mas sou humano e faço isso mesmo: cometo erros. Também já cometeste os teus. Mas não sei muito bem porquê os meus são sempre mais imperdoáveis. Eu tento, mas não sou perfeito. Nunca o vou ser. Não o sabes e talvez nunca o venhas a saber por que construíste uma imagem que não sou eu. Perdoas, mas não esqueces. Eu esqueço, mas amo. É apenas isso, no teu dia. É o que digo, ainda que seja através de uma canção da qual não podes compreender a letra. Não faz mal. Gostas da melodia. É suficiente. A suavidade com que toca nas colunas da aparelhagem representa o que te quero dizer.

There is love, there is love, to be found. E tu deste-me um espaço cheio dele para crescer. O'Mother, Where Art Thou? Estás aqui. É suficiente. Percebe a tua importância nesta música. Ou pelo menos na sua melodia. From a shell. Tudo amor. Tudo Tu, mãe."
V

1 Comments:

Blogger hitchhiker said...

lembraste-me disto


Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.

Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.



Eugénio de Andrade

e não volto a comentar até permitires comentários anóninos

16 November, 2006 15:43  

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