sob a pele...

"Às vezes atravessam-se oceanos de tempo, outras o tempo percorre os oceanos para nos apressar ou abrandar. A convulsão marítima ouve-se ao longe, em toque latente, como um sino que não toca há anos mas em si encerrou toda a vibração de um século. As ondas revoltam-se ao longe, empurrando para a costa o que o mar já nao quer engolir ou que a ele deixou de pertencer. É assim a força dos oceanos - à terra devolve o que dela partiu.

Dou por mim a olhar pela clarabóia deste meu lugar privilegiado sobre o mundo. Deste pedaço de chão onde me sento. Bem junto à terra, para sentir o calor do útero que nos acolheu e que nos reserva lugar eterno. Observo. Em cima dos tacões de 10 centímetros, as mulheres não sentem o chão que pisam e os homens nas suas solas de couro pouco gastas apenas deslizam, à superfície. A terra presente toda a indiferença, a cada calcanhar, a cada tic toc, a cada contacto com a sua crosta, deixando-a revolta. O magma circula por entre os seus veios, dando conta da actividade interna. A pressão acumula-se até se ouvir o apito estridente e depois o estrondo, aquele que liberta toda a força contida num jacto de lava ardente. É um fenómeno natural aprazível ao olhar, será que também o é ao sentir?

será que as emoções também explodem em forma de lava?"


V