Sunday, November 19, 2006



Sunday, bloody freakin sunday

Os domingos são irritantes.
Se já por si a palavra domiiinggoo tem uma elevada dose de pasmaceira no sangue, imagine-se o que acontece aos domingos nesta recta final até ao natal. As ruas viram um amontoado de gente que se atropela, os enfeites típicos desta época são os directores de fotografia do evento e a luz solar a desaparecer por volta das 18h completa o set filmico.

Se por acaso uma pessoa precisa de um qualquer ingrediente para o jantar, sim porque uma pessoa precisa de alimento, e é forçada a sair de casa então está tudo estragado. Uma qualquer fila de supermercado faz subir a temperatura raivosa e quase que dá vontade de estrangular o caixa por registar os preços a velocidade de caracol. Como é óbvio o senhor ou a senhora da frente não repararam que estou carregada e que tenho menos compras e fazem questão de esperar por não sei quem, que à última da hora se esqueceu de qualquer coisa e voltou para trás. Não há pachorra. E ainda menos pachorra há para ir a qualquer centro comercial. Eu já não sou grande adepta de confusões. E então em centros comerciais ao fim-de-semana...

O ideal é: se uma pessoa precisa de ir à Fnac porque o orçamento se quoaduna com o estado de espírito, o melhor mesmo é escolher as horas mortas durante a semana. E aproveitar depois para ir dar um passeio junto à marginal. Isso sim um digno programa de fim-de-semana relaxante. Nem que se deixe o carro não se sabe muito bem onde e depois se percorra o resto do caminho no paredão, aproveitando para respirar a brisa revolta das ondas.

Não compreendo a mania domingueira de enfiar a cabeça como a avestruz, não na terra mas em centros comerciais. É um espaço fechado. Está apinhado de gente. As pessoas acotovelam-se. Para quê sair das quatro paredes caseiras e enfiar-se noutras quatro paredes onde ainda se respira menos?

Ar fresco só mesmo o que se aproveita do vidro do carro totalmente aberto. Liga-se o rádio, escolhe-se uma playlist jazzy e aí vamos nós a conduzir não se sabe muito bem para onde. Também não interessa. O objectivo é arejar. Se não é possível conduzir porque o carro decidiu fazer birra e não pega ou porque o idiota do vizinho o trancou no estacionamento. Abre-se as janelas de casa. Deixa-se entrar o ar e respira-se. Liga-se também o dvd e escolhe-se Nosferatu como cenário. Um filme algo estranho para um domingo? Não quero saber. Nada melhor do que imaginar drácula. É sangue. É vida. Os domingos parecem ter perdido essa cor viva do vermelho.

Sunday, bloody freakin, sunday. I am count draculaaa...

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

A caminho de casa

À esquina do céu sua um sol irascível,
Transpira plutónio, ameaças, injurias, raios invisíveis de desgraça,
em cor de negativo fotográfico.
Aliás, chovem películas fotográficas.
Das nuvens desprendem-se presságios atómicos,
vizinhos em roupão vociferaram raiva vespertina e matam o domingo.
Outros tantos passeiam a gordura,
a estupidez, a lepra mental,
as carrinhas familiares, os bebés e os cães,
as meninas que jamais lerão Miller,
as carteiras e os cêntimos que andam á boleia,
o badalo da classe impermeável á misericórdia,
passeiam a acomodação, o futuro desértico,
as tesões de fim de semana,
passeiam a preguiça pelo centro comercial,
os seguros de vida, e a normalidade nauseabunda.


Entretanto o céu planeia a sua queda,
e o sol brilha a morte do domingo.
Chovem sucessivamente os dias da semana na calçada.
Trovejam estrondos de bigornas e martelos.


Serão sempre eles e eu,
Eles para sempre, eu um dia finado.

Dum lado da barricada o eixo da certeza:
Um cento de capados, assegurados para a vida,
Cercados por juros e mensalidades,
Transportados em cabazes familiares,
Até ao reino das vaidades.

Aqui: o desalinhado incerto.
O caos, duas pernas e um aparelho descalibrado.
Errático, explosivo, marchante de botas cardadas,
Contra o todo calado.


O sol assassino pertence-lhes

A tudo o resto arrogo propriedade.

20 November, 2006 04:39  

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