And the Oscar went to...
A noite mais aguardada do ano para aficionados de cerimónias de prémios terminou em beleza para Martin Scorcese. Nos anos anteriores em que havia sido nomeado não escondia o olhar melancólico do "ainda não vai ser desta". Este ano esse olhar sumiu-se. Estava mais que visto que ia ganhar. Ou não tivessem subido ao palco Spielberg, Coppola e Lucas. Com os três compinchas ali, o Oscar tava no papo. Mas custa-me que tenha sido por Entre Inimigos, de longe o melhor filme do realizador.
Não por se tratar de um remake ou por o original ser tão bom que pouco mais havia a acrescentar, mas porque Scorcese teve em nomeações anteriores, uma mostra daquilo que realmente é capaz. Um realizador como ele merecia mais do que um double-win, como quem diz: "toma lá o prémio de carreira". Merecia um Oscar por um filme de cunho seu, visão sua e não apenas emprestada. Talvez dê para penhorar, já que vale 153 euros... Ou então para segurar os livros na estante... Ou ainda para atirar à cabeça de alguém, já que pesa quatro quilos...
Babel devia ter ganho melhor filme, mas as narrativas fragmentadas nunca foram muito o estilo da Academia, pelo menos não visualmente. Que o diga o departed Robert Altman. No papel, vulgo argumento, o espartilhado é mais aprazível. Pena, até porque era um filme de linguagem universal. E soletrava o tão apregoado "liberalismo" hollywoodesco. Fica para a próxima. Este foi um ano Entre Inimigos mesmo.
Os Actores
Jennifer Hudson ganhou o prémio de melhor actriz secundária, nunca percebi essa designação, mas não vem ao caso. E trouxe mais uma vez à baila o género "musical". Ainda não vi o filme, mas parece que a Academia anda à procura de música para o seu coração. Nos últimos anos as actrizes secundárias em musicais, andam a dar-lhe bem. E mais uma vez um musical da Broadway conquistou LA. Tendo em conta o leque de actrizes, Hudson seria a minha última aposta. Mas os prémios são mesmo assim, uns ganham, outros perdem. E ainda trazem de volta as Supremes. Dreamgirls, relembrando Diana Ross com menos 20 anos em cima.
Helen Mirren foi a grande senhora da noite, com um discurso ponderado e de elegância britânica. Já era de esperar. De todos os anos este foi o que deu origem a menos dúvidas nesta categoria. Se é que as havia. Serena como uma verdadeira rainha, Mirren agradeceu à mulher que encarnou Elizabeth of Windsor. Duas numa só. Na tela, nem havia espaço para pensar que existiria ali qualquer coisa de Mirren. A noite de A Rainha.
Alan Arkin, o avô mais prá-frentex do ano. Se o senhor não tivesse ganho como melhor actor secundário, dava-me a travadinha. Para quem viu o Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos, a interpretação de Arkin não passa mesmo nada despercebida. Desde ensinar à neta uma coreografia alucinada para a música Super Freak a colar pipocas na ponta da lingua e a não conseguir calar a lingua, aquele avô é um must. Quem dera ainda existir assim algumas pérolas destas.
Numa noite com uma Rainha já galardoada, só faltou mesmo o Rei. Forest Whitaker levou para casa a estatueta pelo seu desempenho no filme O Último Rei da Escócia, o tour de force de um actor que já em Ghost Dog: The way of the Samurai estava memorável. Num discurso emotivo, o tom humano não se conteve na sua voz. Mais uma categoria que era evidente.
Outros Premiados
Melhor Argumento Original
"Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos"
Melhor Argumento Adaptado
"Entre Inimigos"
Melhor Filme Estrangeiro
"A Vida dos Outros" (Alemanha, Florian Henckel von Donnersmarck)
Melhor Filme de Animação
"Happy Feet"
Melhor Curta-Metragem de Ficção
"West Bank Story"(Ari Sandel)
Melhor Curta-Metragem de Animação
"The Danish Poet" (Torill Kove)
Melhor Curta-Metragem Documental
"The Blood of Yingzhou District" (Ruby Yang e Thomas Lennon)
Melhor Documentário
"Uma Verdade Inconveniente"
Melhor Montagem
"Entre Inimigos"
Melhor Direcção Artística
"O Labirinto do Fauno"
Melhor Fotografia
"O Labirinto do Fauno"
Melhor Guarda-Roupa
"Marie Antoinette"
Melhor Caracterização
"O Labirinto do Fauno"
Melhor Banda Sonora Original
"Babel" (Gustavo Santaolalla)
Melhor Canção Original
"I Need to Wake Up" (Melissa Etheridge, "Uma
Verdade Inconveniente")
Melhor Mistura de Som
"Dreamgirls"
Melhor Montagem de Som
"Cartas de Iwo Jima"
Melhores Efeitos Especiais
"Piratas das Caraíbas - O Cofre do Homem Morto".
Aftermath
Numa cerimónia que ainda mantém muita gente acordada até de madrugada, a Academia continua a aviar receitas de elevada sonolência. Não surpreende, segue ao sabor do vento de final scores de festivais e de outras cerimónias anteriores. E teima em cometer erros de casting. Premiar as pessoas certas em anos errados... E descurar ou mal-interpretar pequenas preciosidades...
E assim acontece...
1 Comments:
Pois, a academia tem feito ponto de honra nos últimos anos em premiar as pessoas certas nos anos errados, na tentativa desesperada de compensar qq coisa. Veja-se Russel Crowe no Gladiador..... esteve bem melhor no Informador ou até mm L.A.Confidential.
Este ano repetiram a proeza com o Scorcese, um dos maiores realizadores americanos que levou a "palmadinha na cabeça" na altura errada. Ainda n vi o filme e n duvido q seja bom, afinal Scorcese é sempre Scorcese, mas custa-me que o óscar chegue por The Departed qd para trás temos GoodFellas, o filme q roça a perfeição, o Touro Enraivecido, Táxi Driver e a Idade de Inocência, que tem mais cinema no genérico inicial que mtos filmes no seu todo.
Para mim este seria o ano de Inaritu, que termina com Babel a sua trilogia da dor, tão brilhantemente iniciada em Amor Cão. Mas parece que uma história de silêncios usados para ouvir, foi demais para a academia em ano de campanha encapotada de Al Gore no Kodak Theatre. Afinal, a política, os silêncios sábios e as palavras oportunas nunca andaram a par e passo.Foi mais uma noite de política do q de cinema.......
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