no gelo de um fio de cabelo...

"Sinto o frio no meu rosto,
poço sem fundo,
desce sobre mim como ausência
resta nada mais neste segundo
longe de tudo,
frequência isensata de perder
a capacidade de ser?

Não, Sim, talvez?
nas minhas veias o sopro gelado
de uma nortada, que de passagem
optou por ficar, de vez
no meu sangue segue
na minha voz se instala
esse sopro
essa aragem fria,
congelou-me as emoções
meu intento ficou fechado
nas teias de um vento irado
blocos de gelo à minha porta
de gente torta
eu, pele morta
de dias que passam
e nao ficam.

Ao longe o uivo da nortada
fria, como dantes
fria, como agora
na lágrima que se congela
na minha face
chora, não
o choro perdeu-se na noite
não sou já eu
o adeus ao mar que leva
o olá à nuvem que traz
um baralho de cartas
todos valetes e nenhum às
rainhas depostas
reis incompetentes
forças correntes,
joker perfeito aprendiz
todos lhe perguntam: por que ris?

resposta não tem
seu sangue nao circula
é gelo e no gelo só
ficou pedra
labirinto de aridez
numa conta que não fez
e nada mais, talvez...

o inverno prolongado
no meu corpo pesado
irado o frio
me rebenta nas veias
que tanto me percorre
meras teias
feroz gelo,
que me parte,
no fio último
de cabelo..."

V