BABEL: a gateway to...
In the beginnig all the Lord's people, from all parts of the world, spoke one language. Nothing they proposed was impossible for them. But fearing what the spirit of man could accomplish, the lord said, let's go down and confuse their language so that they may not understand one another's speech.
E assim teve início, na palavra. No filme de Inarritu não é propriamente a verbalização que tem primazia. A palavra não é o início, talvez seja apenas um complemento, nada mais. O início tem lugar na linguagem universal da dor. É visível num olhar, é sentida num gesto, é mostrada num trecho musical e facilmente reconhecivel. Basta estar atento.
Mesmo sem falarem a mesma língua, há personagens que comunicam como se não houvesse essa barreira linguistico-cultural. Talvez porque o mais importante não é a lingua mas a linguagem. Quantos falam a mesma lingua e não se entendem? Talvez fosse essa a mensagem da história de Babel do Tempo Antigo. O mesmo acontece entre realizador e director de fotografia. Têm de querer o mesmo objectivo, ter a mesma visão de uma narrativa, caso contrário a construção visual fica pela metade e não espelha o que cada estória ou estórias gritam por mostrar.
Num jogo de ruído e silêncio e de forte presença musical, Inarritu traz-nos vários personagens que poderiam, todos eles, ser apenas um, na sua forma particular de sentir a dor. Dor de existir, Dor da perda, Dor como resultado de um erro ou apenas dor. Independentemente da língua falada, essa é a linguagem universal, está nos rostos, seja do miúdo marroquino que apenas quer voltar a ver o seu irmão com vida, seja de Blanchett reflectido no vidro do autocarro, seja de Brad Pitt ao telefone, seja da rapariga adolescente no Japão. E para além da dor, fala-se não por palavras mas através do corpo. Instrumento vulnerável e mais próximo do que é realmente verdadeiro. Não se esconde por detrás de maniqueísmos verbais ou eufemismos, está ali e é cru.
Nu ou coberto por roupa o corpo é veículo dos melhores diálogos do filme. Seja um toque de mão, um abraço ou uma lágrima vertida. Como banda sonora, composições clássicas que tocam a pele, a acariciam e arrepiam. Momentos que alternam entre si e ligam cada uma das histórias, seja no Japão, Marrocos ou Mexico. Se fecharmos os olhos, a nudez da música e a forma como desliza nota após nota, retira-nos qualquer defesa. Deixa-nos à mercê dessa crueza que é sentir...Dor. Ou sentir essa violência que nos anavalha as entranhas mas que nos faz sentir vivos. É a verocidade de querer estar na presença do outro ainda que nenhuma palavra seja dita. É a visceralidade de saber que só faz sentido se o sangue correr nas veias ou para fora delas. É estar vivo e conhecer apenas a realidade nua e crua: a dor, linguagem universal.
Ruído vs Silêncio. Das melhores sequencias visuais e auditivas é a da discoteca no Japão. A alternância entre som e a mais pura ausência dele. Como seria viver sem poder ouvir? Na maior parte do tempo já se faz isso mesmo. Não ouvimos o que o outro nos quer dizer ou pelo menos está a tentar dizer. Por preguiça, por distracção ou apenas por não ouvirmos. If you wan't to be understood, just listen. Deveria ser essa a frase escrita no espelho de muita gente, para lerem logo pela manhã. Não se tratam de palavras, mas escutar e isso implica escutar tudo o que mesmo sem som ou ruído fala. Está no corpo.
Acrescento: if you wan't to be heard, just stay silent!
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