Balada para a noite...
"Olho para o relógio. Como se fizesse diferença. Não faz. Desde pequeno que desejava ser mais alto para poder chegar aos armários na cozinha. Quantas vezes a minha mãe foi dar comigo empoleirado no lava-loiça. Acho que era a minha forma de contornar a falta de estatura. Que mania. Houve quem dissesse que era uma excelente qualidade. Talvez. O "desenrascanço" sempre foi um traço meu. O problema é que simplesmente há coisas incontornáveis, como a natureza. Ou a loucura.
Não consigo controlar o que sinto. E enlouqueço. Até os meus sonhos conspiram contra mim ao revelarem teu rosto. E mesmo que revelem apenas os contornos, eu sei que são os teus. E choro. Porque é inevitável. Quem disse que os homens não choram? Liberto alguma da energia que contenho dentro de mim, pela lágrima. Deixo-me ficar deitado, a ver se apodreço ou se crio um casulo qualquer, como uma traça. É isso que sou.
Não faz muito sentido saber que as horas passam, se eu sei que nunca serão a teu lado. Por isso encarno a minha condição de traça. À espera que a luz me queime. Porque morrer? Já morri. "
V
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