Monday, January 08, 2007


Nature, Queen... aren't we all?

Talvez seja preciso um certo estoicismo para se conseguir sobreviver. Há alturas que pedem demonstração de sentimentos, mas para a rainha de Inglaterra essas alturas devem ser privadas e pessoais. A Rainha não é um filme sobre a monarca é antes sobre a mulher-monarca, porque uma subsiste à outra ou vice-versa. A aprendizagem pela experiência trouxe-lhe imunização.

Distante, implacavelmente sobria, inabalável, poderiam ser palavras utilizadas para descrever o rosto de Isabel II. Ou quererei dizer Helen Mirren enquanto Isabel II? Pois, isso mesmo. Mas por detrás dessas palavras, desses meros elementos descritivos está um rosto que, num momento único de contacto com a natureza, deixa verter uma lágrima. O encontro ou têt-à-têt com um alce relembra a rainha da beleza, pura, que é a vida animal. Num paralelismo com o ser humano, também a beleza da vida humana verte sangue pela animalidade. Se bem que neste caso se trataria de um animal ferido que recolhe ao seu jugo para lamber as feridas. O que transparece no rosto de Mirren é a mulher e o animal. A mulher, cuja educação a ensinou a não deixar transparecer nenhuma emoção, seja ela de que categoria for. E o animal, que em momentos de crise recolhe à toca para receber uma derradeira lufada de ar fresco antes de regressar à aridez do seu ambiente natural. Queen Mirren, poderia ser esse o título de um filme que, mais que uma rainha, retrata a metamorfose que uma vida inteira atrás de um trono importa numa mulher/ser humano.

Se considerarmos a vida como esse trono, diariamente nos apercebemos das crises "diplomáticas", "práticas", "legais", o que seja, que se operam à nossa frente e para as quais talvez o que é mesmo preciso é estoicismo. Ou no vulgo "aguenta e não caguincha". Ou talvez baste apenas retirar: os animais feridos tentam sobreviver às feridas e nem sempre o conseguem. Mas lutam. Os seres humanos, para lutar, precisam de ter consciência que sobreviver é verter lágrimas, é sentir dor, mas tudo isso em privado. O único espaço em que animal/humano se encontra e não há códigos a seguir a não ser o de: "survive at all cost".

MOMENTO ÚNICO
Numa sequência visualmente bela, mais pela expressão do olhar de Mirren do que pelo próprio desenrolar da cena, vemos uma mulher/animal ferido que chora sobre a sua ferida. Nem que essas lágrimas tenham sido despoletadas pelo partir da engrenagem de um jipe. Atravancado entre margens do rio, como aliás parece ser essa a imagem de Queen Mirren ao longo de todo o filme: "atravancada" entre duas margens, com dúvidas, incertezas, mas com uma única verdade: Sobreviver a todo o custo. E nesse olhar momentaneamente terno de Mirren, humedecido por pequenas gotas lacrimais, denota-se o estoicismo de sobrevivência. De imediato enxuga o rosto e agita os ombros para voltar à postura que uma rainha deve ter: a de impávida e serena.

A postura da sobrevivência: "sigh no more. thus long lives the face that never shed a tear. or it did but none was able to see it".

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