Sunday, June 10, 2007

Linhas cruzadas...
voz humana...
No dia a dia corrente, tudo mais que se pede, tudo mais que se sente...
Mais, mais, mais...
exigências constantes, tudo a mil, nada a vinte ou simplesmente à velocidade de um olhar distante...
perdido num qualquer detalhe citadino,
seja a luz,
seja a forma como os troncos de uma árvore se esgueiram por entre os edifícios...
seja apenas olhar...o que quer que seja...

no frenetismo do "mais e mais" perdem-se instantes...
ganha-se e vende-se solidão...
pequenos acidentes ou incidentes que nos confinam ao isolamento, trazem até nós essa machadada "mais",
corta-nos o ar,
esmifranos,
desliga-nos da alimentação,
eutanásia não autorizada...
um pequeno deslize, um tropeçar e piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii__________

recosto-me na minha ausência
estendo-me na minha solidão diária...
"mais, mais, mais, mais..."
e nem um único toque de telefone...
nada...
levanto o auscultador e uma conversa cruzada chega até mim...
outros conversam, eu apenas escuto...

o cansaço instala-se na minha dor
interna com manifestações externas...
o espaço interior já não era suficiente para a comportar...
um coxear tropego,
como o silêncio...aos soluços...

nas linhas telefónicas cruzadas,
vozes sofridas,
abandonadas...
prisioneiras sem fuga de "mais..."
que certamente o comum dos mortais pede com o café da manhã, sem saber muito bem o que é ou para que serve...
eu prefiro o meu café "solo" como em Espanha,
sem aditivos... só, para acompanhar o meu estar só...
talvez o único companheiro, a única adicção a essa chávena matinal seja um cigarro, fumo distante... e um pacote de açúcar, não gosto de adoçante. e a mania dos light só traz "mais e mais e mais" peso, e em nada o que o próprio nome indica: leveza...

sigo a minha sombra, coxa,
o meu eco ausente ao telefone...
linha interrompida...
a minha voz só...

recolho-me no meu recanto...só...
ninguém vê,
ninguém sente...
talvez deixe mesmo de existir quando não estou, em qualquer lugar...
quando a impossibilidade de deslocação nos armadilha,
num ecrã soletra-se "Só"...

sombra coxa, como eu,
de nada em especial se fez,
segue passos fugazes, ausentes, invisiveis...ardeu
voz rouca que em lagrimas se desfez,
ecos sem retorno, mar Egeu...
onde rei se jogou, de luto, filho que perdeu...

batalhas vãs,
meu descuido,
sofrimento eterno,
meu lugar permanente
no Inferno...

e se na solidão as chamas se intensificam,
não ouço os ventos "mais",
estimo apenas as pequenas janelas,
que deixam entrar o ar
no "menos" que sou...

um verbo: amar...
ninguém vou...
inexistência minha,
onda revolta em onda, no mar
ou direi eu, só em qualquer lugar...ninguém sou...

a estatica que escuto do outro lado da linha
a voz humana,
Cocteau falava
sentimentos prementes, intensidade esventrada...
perdida nessas páginas,
nessas palavras,
um som que não ouço,
minha própria voz escuto, sem retorno...
como um búzio...
talvez um dia, do esboço
carimbado no labirinto
nasça um eu...
agora extinto...

1 Comments:

Blogger lampejo said...

Por vezes a vida "passa" por nós a correr...
Beijinhos.

16 June, 2007 10:49  

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