Thursday, February 28, 2008

Drained...


Drainageeee....Draiiiinage....draaaainaaagee....

Poderá ser uma palavra mais corrente em agricultura, mas não deixa de ser particularmente aplicável a um filme que nos "destrói" a colheita e nos faz impludir o terreno. Drained. É assim que Daniel Day Lewis se apresenta do início até ao final onde essa sensação de estar "completamente esgotado" explode num brilhantismo de composição física.

Conhecido pela sua dedicação e entrega despudorada a cada personagem e papel, o actor inglês surpreendo-nos pela forma como representa Daniel Plainview. Surpresa não por sermos estranhos à sua qualidade, mas pela contenção com que enche e preenche cada traço do rosto do prospector de petróleo, cada gesto, cada movimento do corpo. Sempre inclinado para a frente como se carregasse todo o peso do mundo às costas. E assim o é.

Acompanhado pela "maestria" de P.T Anderson, digamos que o resultado não podia ser mais brilhante. O criador de Magnólia, arquitecta uma actualidade que nos perfura as entranhas, como a plataforma de petróleo prefura o solo em busca do seu "sangue". Preto, mas sangue, que há-de ser vermelho. E mais não digo. A fotografia acompanha em jeito de sinfonia a visão de Anderson e a banda sonora compõe os arranjos visuais. No final uma ópera em "crescendo" com direito às visceras, do que realmente nos consome, nos move e nos faz rebentar.

Como seres humanos sabemos da complexidade que nos percorre as veias, que nos impele num momento a arrastar o corpo por uma pedreira, apesar da perna partida e noutro a sorrir quando a mão de um bebé nos toca desinteressadamente no rosto.

A cena em que as chamas consomem a plataforma de perfuração é simplesmente, à falta de melhor palavra: genial. Por todos os instrumentos da orquestra estarem em uníssono. E nesse instante sabemos que tal como o solo, quando é perfurado, pode rebentar e jorrar o seu sangue negro, também o ser humano quando "drenado" esgota os seus últimos recursos a expulsar tudo o que não é vida.

Mais que sangue, There Will Be Blood traz-nos vida em formato de 24 frames por segundo.
Cada um deles, até à última gota...