Monday, April 30, 2007

Por la calle...


"perdon, donde fica la calle de marina?"

uma pergunta com resposta, com indicação. o mapa de uma cidade quando se viaja tem pontos de referência, basicamente os ex-libris por onde passam milhares de turistas. passos dados ao longo de uma avenida, seguindo as ruas, cruzando outras, paralelas, olhando para o mapa, para chegar ao próximo ponto. é pena que outras questões não tenham resposta simples como essa ou que por mais que se ande a cabeça nunca saia do mesmo sitio, fazendo o percurso contrário dos pés já calejados de tanto caminhar.



mesmo numa outra cidade, o cheiro tão familiar chegava até mim, ao meu nariz. apanhado distraido e forçando a memória a recordar. ao cheiro juntavam-se imagens que surgiam em montras, pequenas coisas, pequenas peças que me transportavam de regresso, mesmo estando fora. os pensamentos perseguem, incontroláveis, desaustinados, mortificantes, sugando a pouca vida já existinte. no metro as pessoas, a confusão. olhava para todas elas não como turista mas como estrangeira...não por estar fora do meu país mas por sentir que nunca sai de "casa"...

um escape...uma fuga apenas...o mesmo eu...nada de novo a não ser o enorme vazio que fica, de não saber o que sentir...de desejar ter outra pele acima de tudo...porque esta não me serve... resta pouco de uma alma que tudo sente, em demasia...

olho à volta e continuo a caminhar... as pessoas absortas nas suas próprias conversas e caminhadas... observo-as e nada sinto... as vibração das ruas entranha-se e nada... nenhum movimento anterior... um roubo. adrenalina sobe. passa o efeito, nada. nenhum sentimento...

um vazio...




toca o despertador... acordo. não era sonho... é verdade... "

V

Thursday, April 19, 2007


Locked inside... no key...

Tuesday, April 17, 2007

de vita exire...
...necron



Monday, April 16, 2007

teardrop...


"so many...

frozen in time... frozen in heart...

will prevail...

for cry is there, here no smart endeavor

but love felt...

maybe goodbye is the only answer to why...

in essence unchangeable...

the feeling...

a mirror image locked inside itself...

no key... a labirynth...pain...

screaming like a madwoman...

no deny...

goodbye..."

V

Tuesday, April 10, 2007

from a shell...







until further notice...


A mess... It is...


Saturday, April 07, 2007

true face...

Monday, April 02, 2007


"What I'm trying to describe is that it's impossible to get out of your skin into somebody else's.... That somebody else's tragedy is not the same as your own."

Muitas poderão ser as palavras de conforto ditas, meras tentativas de aproximação a uma outra realidade que não a nossa. Podemos tentar descrever um nascer ou um pôr-do-sol a um cego, mas as cores que nós "vemos" e que por ele vão ser "sentidas" pertencem a realidades diferentes, a percepções diferentes. Diane Arbus cresceu entre esses dois mundos, não pertencendo na realidade a nenhum. Enquanto fotógrafa queria alargar a visão, como que um misto de um e outro mundo. Talvez por isso a certa altura tenha abandonado o formato de 35mm e tenha elegido uma Rolleiflex, de médio formato, como instrumento de metamorfose. Uma máquina fotográfica de lente dupla, para captar o estranho na "normalidade" e a "normalidade" no bizarro. Ou talvez tenha apenas querido provar através de cada imagem que não existe "normalidade". E muito menos caixas com linhas geométricas bem definidas onde tudo tem um encaixe. Com a ajuda das duas lentes, a visão de Diane alargavasse aos dois mundos, ambos bizarros, ambos estranhos, ambos complexos, como aliás o é qualquer ser humano. A estupidez de querer extrair simplicidade de uma matéria complexa é que dá origem a rótulos, a designações, a erros...

O erro de, à força, classificar um Eu como quem classifica um cavalo numa corrida. Se quisermos tornar as coisas estupidamente simples então não passamos todos de meros cavalos numa corrida, animais desorientados que apenas sabem que a corrida teve início porque as cancelas se abrem e se ouve um som que, diz-se na giria, serve para "arrancar"...

Arrancar, arrancam-se pedaços todos os dias...Pedaços que Arbus queria captar, um a um, pedaços que os olhares dispersos deitavam no lixo e que Diane pegava gentilmente em formato de fotografia e lhes dava a vida que mereciam...O uso do flash ainda com luz do dia permitia-lhe dar o destaque ao sujeito fotografado, talvez querendo para além disso, trazer luz à escuridão projectada pelos olhares trauseuntes, carrascos de almas únicas...Como Diane...

No filme de Steven Shainberg entramos num retrato imaginário de Diane Arbus, a fotógrafa de "freaks", como ficou conhecida na cultura norte-americana. Mais um erro cometido... Mais um encaixe... Até mesmo as críticas ao filme tiveram de encaixar a história ora no "ok, trata-se de um relato ficcional da vida de Arbus", ora no "a narrativa manteve-se à superfície de uma biografia bastante profunda" ou ainda "o realizador perde-se na fantasia e esquece a realidade"...

A todas essas balelas, sim para mim não passam de balelas, digo apenas "vão vender xuxas para a porta da maternidade...". Sim ao menos as criancinhas precisam. Deste tipo de criticas teórico-neo-qualquer- coisa, que nem os próprios criticos sabem definir, ninguém precisa. Para mim um filme não carece de análise. Basta sentir. Qualidade que parece ter desaparecido, dando lugar ao escrutinio, ao escárnio... Ou direi antes "descarnio"...?

O filme, intitulado Fur, apesar de acrescentar: an imaginary portrait of Diane Arbus, não podia ser mais real, mais cheio de corpo, mais repleto de voz, de suor, de vida... Porque Fur, em inglês tanto pode ser pêlo como pele, dependendo da perspectiva...Ou da objectiva. De for unilateral apenas vemos pêlo, como seres humanos erráticos e de palas nos olhos, de forma bilateral vemos também pele, como seres humanos e animais de sentidos e de sentir. Uma das cenas mais marcantes é o abrir sôfrego do vestido à varanda, com uma Nicole Kidman como Arbus , a bradar aos ventos: "quero retirar este espartilho que não me deixa respirar"...E outra o toque de pele com pele entre Kidman e Downey Jr. A descoberta da pele do outro, mais do que uma cena de cariz erótico-sexual, é uma cena de toque. A intimidade de sentir a pele do outro, o seu cheiro, a sua textura...Nessa troca de sensações, dois corpos abraçados transmitem mais intensidade do que qualquer outra imagem mais sensualizada...

Não vou descrever cena a cena, mandar postas de pescada sobre o ângulo x, a narrativa ordenada, o raio que o parta, nada disso me interessa e não me pagam para tecer criticas...

Resta-me o que sinto...

E pegando novamente no inicio deste discorrer de palavras: ninguém pode substituir-se ao outro no sentido de sentir o que lhe vai na alma... E é nesse contexto que são injustos e despropositados quaisquer tentativas de encaixe... Há inúmeros titulos, a começar pelo Dr. e a acabar no Cunha, passando pelo hetero, o homo, o bi, e sei lá mais o quê. Tudo termos médicos claro. E quando não se sabe muito bem é pan, tudo é pan. Deve ser para fazer pendant com as barbaridades que saiem boca fora... ou não fosse este um país que recentemente elegeu Salazar como o maior português de todos os tempos...

Onde estás tu Diane que agora tiravas um retrato fantástico desta gente...stupda

Arbus sentia a diferença e para ela não havia nada de mais belo... Aos olhos dos outros, mesmo dos mais próximos, não era visto assim... E ela própria acabou por se tornar uma freak... Porque não era como a maioria, porque sentia de forma diferente, porque via o mundo no paralelo, porque conseguia ver cor no "meio", porque vivia... autêntica...

Nos últimos anos da sua vida dedicou-se aos doentes mentais... Talvez sabendo que no meio da "loucura" encontraria a paz que o mundo lá fora, dito "normal" lhe retirava...

Esse mundo, de que somos obrigados a comparticipar, suga-nos o ar...Confina-nos a espaços fechados, a testar a nossa resistência à claustrofobia... Diane rasgou o vestido no filme, na vida real cortou os pulsos... A beleza da sua visão era demasiada para este mundo unilateral. Encontrou à margem, nesse acto, a sua voz, por fim Dee-aann, como insistia que o seu nome se pronunciava... Um The End... antecipado... Um retrato, uma última foto... Nunca ninguém poderá saber a dor que lhe corria nas veias... A dor insuportável de saber o que se passa na pele, Fur...