Monday, June 30, 2008

Cafeína é bom é bom é...


"Acordara com um travo amargo...na alma. Talvez fosse o síndroma de segunda-feira, essa doença que ataca os fígados, mais até que uma dose amigável de gin tónico. Ou talvez fosse apenas a inquietação de existir. Teria de pensar seriamente no que faz, fará ou faria, como pretéritos constantes, como condição sine qua non... Palavra pomposa para referir sentido único. Sim esse sinal quadrado de fundo azul com uma setinha branca. Diria setinha e não seta, para de algum modo aligeirar a sensação de deriva.

Despertara ao som de um relógio estridente, pior que a corneta de um qualquer quartel militar de filmes de anos 70. Uma imagem exagerada de certo, mas a violência deste acordar autómato não se adequa a paninhos quentes. Ou a floreados. E muito menos açúcar. A não ser que seja no café. Doses absurdas de cafeína. Com açúcar. Meio pacote. Mas sempre com açúcar. O moer do café na máquina... Bem que se podia inventar cafeína a ser administrada de forma intravenosa, pensava. Mandar pra veia logo de manhã, assim é que é. Imaginava um anúncio para esse novo sistema. Um jingle bem piroso, uma fila enorme junto a um balcão... Homens impacientes, mulheres estridentes, adolescentes "na sua" e crianças sentados no chão. Um jovem moderno e estiloso chega ao balcão, diz para a empregada: quero uma injecção de macciato com canela por favor. Vira-se para a câmara meio gazeado. Ouve-se em OFF - geração café na veia, porque acordar sim, mas não de forma feia...

Esbofetea-se mentalmente para sair daquele transe perfeitamente idiótico e de profundidade absurda. Carrega no botão da máquina de café. Café longo. Deixa correr quase até ao fim. Nunca coloca o copo no início. Deixa correr quase a totalidade e depois mete o copo por baixo. Acrescenta água quente. Não gosta de café forte. Pode beber dois seguidos, mas não gosta. Bem...Não é tanto gosto, é mais tremedeira e electricidade de levar à náusea...

Aqueles cerca de 30 segundos... Em que o café se bebe. Rápido.

30 segundos de off. Um off que gostaria de ver prolongado. Um off que pudesse ter. Mas logo de imediato lhe relembram "não está fácil". Aguenta. Tem de aguentar. Ainda que no máximo de esforço. Pensa novamente na cafeína. Talvez invente um mecanismo e registe a patente.
Café pra veia, só naquela...Porque é segunda...feia...."

Brainworm

Sunday, June 15, 2008

a pie tale


Tinha acabado de acordar e sentia-se como o céu que o espreitava lá fora... Cinzento...
Se alguém lhe perguntasse porquê não saberia responder... Acordara com o sabor amargo de uma ressaca trazida pela memória. A inadequação era cada vez mais forte, como uma dor de cabeça que começa devagar e se intensifica. Tinha saudades de quando o maior problema que tinha era não saber se ia vestir jeans ou khakis. Os dias seguiam-se uns aos outros, intermináveis. O bloqueio que se instalara no peito, impedia-o de respirar fundo. Sonhava com dias mais pequenos, sobretudo mais simples, que tivessem horas finitas de sacrifício e infinitas de sabor a tarte quente. As tartes eram o que de mais precioso tinha na vida.

Pasteleiro de profissão, as suas tartes tornaram-se mais saborosas com um novo ingrediente, um pouco de mel... As cup pies de mel...

Sabia que apenas uma tinha mais sabor que toda uma tarte sua e por isso não se sentia merecedor...

A única coisa que tinha todo o significado para si eram aquelas cup pies...

Queria estar à altura, mas sentia que um pedaço de tarte não era o mesmo que uma cup pie...

O mel era o recheio...
Nenhuma tarte voltaria a ter o mesmo sabor.

Queria poder sentir-se merecedor... De uma cup pie... De mel.

Wednesday, June 04, 2008

The face of a book's cover...



Marquise De Merteuil:
When I came out into society I was 15. I already knew then that the role I was condemned to, namely to keep quiet and do what I was told, gave me the perfect opportunity to listen and observe. Not to what people told me, which naturally was of no interest to me, but to whatever it was they were trying to hide. I practiced detachment. I learned how to look cheerful while under the table I stuck a fork onto the back of my hand. I became a virtuoso of deceit. I consulted the strictest moralists to learn how to appear, philosophers to find out what to think, and novelist to see what I could get away with, and in the end it all came down to one wonderfully simple principle: win or die.
in Dangereuses Liaisons