Visualmente: um exercício de enquadramento, de planos, de beleza fotográfica.
Narrativamente: vários contos num só, várias estrofes de uma mesma canção, várias vozes numa só.
Bob Dylan é a figura que serve de inspiração, desdobrada em 7 personagens. Mais que uma tentativa de revelar quem é ou quem foi o homem ou o cantor, existe uma evidência: a complexidade da identidade transborda nas palavras de alguém que mais que qualquer outra figura da música norte-americana procurou ser sempre Outros, ainda que no Eu. Nas palavras do poeta Rimbaud
"I is another".
I'm Not There, não só porque é o nome de uma canção, mas talvez por ser menos conhecida, e porque de facto Dylan, não está lá. Estão representações, emoções que se sentem no ar, uma interpretação particular da musicalidade de um rosto ou vários. Mas um uno, um
self não pode ser definido. A certa altura ouvimos Cate Blanchett numa poderosa transfiguração de si mesma:
"I know more about you than you will ever know about me". Talvez porque a/o própria/o não o soubesse também sobre si mesma/o.
A constante luta de canções, de poemas contra uma necessidade quase premente de significado. Nota-se que Haynes estudou semiótica. Significante, significado, what does it matter?
Sentir mil e uma pulsões, qual camaleão na sua pele, ausência, olhar exterior para um interior perdido algures... Não um mas vários Dylan, sempre acompanhados pela mestria das letras das suas músicas que, no filme, batem ao compasso certeiro. Ouve-se o que se vê e vê-se o que se ouve.
Emocionalmente: a sensação de transbordar, verter.
Mentalmente:
I'm Not (T)here...
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?