
"Sentia o peso do mundo no peito. Esse globo imenso, em toda a sua plenitude, com continentes e oceanos em toda a sua extensão, acentava-lhe no peito. Pressionava-lhe as costelas contra os pulmões. Parecia deixar de respirar. Os intervalos entre o inspirar e o expirar encurtavam-se ao milésimo de segundo. Nem a violenta vontade de um grito conseguia vergar a força desse peso, da sua pressão. O sono era-lhe roubado pela agonia. Tinha medo. Tão simplesmente. O peso que suportava parecia querer rebentar-lhe o peito. As costelas perfurando a carne, procurando um pequeno sopro de ar cá fora. Pensamentos atrozes circulavam que nem ténias no cérebro, que aos poucos perdia a agilidade e se transformava em miolos. Isso, miolos. Faziam-lhe falta, pelo menos assim o pensava. Sentia tudo em ebulição: o medo, a respiração ofegante, esse peso que continuava no peito. Queria fugir. Meter um atestado de insanidade. Mas ninguém o pode fazer ou pode? Recordava como eram tratados os loucos no inicio do século xx, esses freaks, pequenos anormais que fugiam, há demasia. E ainda bem.
Choque eléctrico atrás de choque eléctrico ou lobotomias mal executadas e de carácter puramente instrumental e mal instrumentado, para retirar esses pedaços de loucura feitos de miolos.
Estava a atingir um limite - um surto de insanidade. Começar? Quando? A que horas? Picar o Ponto? Sair, voltar. Dormir.Não dormir. Acordar. Começar de novo? Quando? E novamente a que horas? Picar o ponto? Outra vez? Responsabilidades. Medo. Não dormir. Acordar. Dormir. Não dormir.
O peso no peito. Não respirar. Pânico. E agora?
Conhecia o peso da responsabilidade diária... Apenas esperava conseguir suportá-lo tempo suficiente para não lhe esmagar o peito, nem lhe fazer o cérebro em miolos mexidos.
Talvez alguém ainda os achasse apetitosos, pensava. A inteligência frita dizem, com sal, é melhor que óleo de fígado de bacalhau... Faz bem à memória, dizem...
Nota ao próprio: deixar de ler posologias de ervanária."
Brainworm